28 agosto 2010

COMO FORMAR CRISTAMENTE OS PAIS?


Como formar cristãmente os pais? Esta pergunta, sempre pertinente, tem hoje uma ressonância peculiar, sobretudo em razão duma nova configuração da família: família nuclear, família com pouco tempo para o convívio familiar, família influenciada pelos meios de comunicação social, famílias com indefinição de papeis e de responsabilidades, família privatizada, família atípica, em número cada vez maior, etc.
Esta nova situação da família, designadamente da família na Europa, exige “à Igreja que anuncie com renovado vigor aquilo que diz o Evangelho sobre o matrimónio e a família, para individuar o seu significado e valor no desígnio salvífico de Deus. (…). Impõe-se redescobrir a verdade da família, enquanto íntima comunhão de vida e de amor, aberta à geração de novas pessoas; e também a sua dignidade de « igreja doméstica » e a sua participação na missão da Igreja e na vida da sociedade.
Segundo a Exortação apostólica Pós-Sinodal, “A Igreja na Europa”, “é necessário reconhecer que muitas famílias, pela sua existência vivida quotidianamente no amor, são testemunhas visíveis da presença de Jesus que as acompanha e sustenta com o dom do seu Espírito. Para apoiá-las no seu caminho, dever-se-á aprofundar a teologia e a espiritualidade do matrimónio e da família; proclamar, com firmeza, integralmente e mediante exemplos eficazes, a verdade e a beleza da família baseada no matrimónio, visto como união estável e fecunda dum homem e duma mulher; promover, em cada comunidade eclesial, uma pastoral familiar adequada e orgânica. Ao mesmo tempo é preciso prestar, com materna solicitude por parte da Igreja, uma ajuda àqueles que se encontram em situações difíceis, como, por exemplo, mães solteiras, pessoas separadas, divorciadas, filhos abandonados. Em todas as circunstâncias é necessário estimular, guiar e apoiar o devido protagonismo das famílias, singularmente ou associadas, na Igreja e na sociedade, e diligenciar para que se promovam políticas familiares autênticas e adequadas por parte dos diversos Estados e da própria União Europeia” (EE, 90-91)
 
Esta nova situação da família é um claro desafio à evangelização e ao trabalho sério e responsável com os pais das crianças e adolescentes que participam na catequese das nossas comunidades paroquiais.
Como vimos já, o trabalho com pais exige uma análise cuidada da realidade familiar local e sua participação na catequese, a proposta de objectivos e acções concretas, uma planificação (partilhada), uma temática significativa, e uma didáctica atraente e esmerada.
Para conseguir tais objectivos, e tendo em conta apenas o que nos cabe de ajuda possível, deixamos aqui duas pistas: uma relativamente à temática e outra relativamente à didáctica ou estratégia a desenvolver
 
UMA PROPOSTA TEMÁTICA
 
Em 1989, sob a orientação do então director do Secretariado da Catequese de Coimbra e hoje Bispo de Santarém e presidente da Comissão Episcopal de Educação Cristã, a Gráfica de Coimbra publicou um livro intitulado “Formação Cristã de Pais (Temas para reuniões de pais) — Da catequese dos filhos à formação dos Pais”.
Este guião, como se lhe chama na apresentação, segue “de perto o itinerário de catequese dos filhos até à Profissão de Fé ou Comunhão Solene” e oferece “dezoito temas para reuniões de pais (prevendo três reuniões por ano ao longo de seis anos) que nos ajudam a reflectir as principais realidades da fé que são comunicadas nesse período da catequese”.
O “guião” não oferece todavia a planificação ou operacionalização desses temas. Tendo em conta a nossa realidade diocesana, e reconhecendo a actualidade dos temas, ainda que sugerindo uma actualização considerável no tratamento e desenvolvimento dos mesmos, sobretudo em razão dos anos e acontecimentos ocorridos, das recentes orientações do magistério e da análise circunstancial de cada região, ousamos apresentar aqui uma estruturação possível destes temas para a infância e sugerir (o que não acontece no guião referido) estrutura idêntica para a catequese da adolescência:
 
REUNIÕES DE PAIS — CATEQUESE DA INFÃNCIA
 

1º Ano
2º Ano
3º Ano
4º Ano
5º Ano
6º Ano

 

Tema 1

(1º Periodo)
 
A Catequese hoje:
O que é e como se organiza
 
A educação moral da consciência

 
Lugar da Eucaristia na vida cristã
 
(Iniciação à ) Leitura do Evangelho em família
 
Desenvolvimento psicológico e educação da fé

 
Em que acredita o cristão

 

Tema 2

(2º Periodo)
 
Catequese dos filhos e formação cristã dos pais
 
Iniciação ao sentido do pecado e reconciliação
 
O Domingo,
Celebração indispensável para o cristão
 
Lugar da Palavra de Deus na vida cristã
 
Diálogo em família
 
A Dinâmica da fé cristã

 

Tema 3

(3º Periodo)

 
Iniciação à oração e oração em família
 
Primeira Comunhão, iniciação cristã das crianças
 
Família, paróquia e escola na educação da fé
 
A paróquia, comunidade de fé, esperança e caridade
 
Família Cristã, Igreja Doméstica
 
A Profissão de Fé
 
REUNIÕES DE PAIS — CATEQUESE DA ADOLESCÊNCIA
 

7º Ano
8º Ano
9º Ano
10º Ano
Tema 1
(1º Período)
Traços psicológicos da Adolescência
O Adolescente, ser em relação
A tarefa de ajudar a viver com sentido
Comprometidos com a ousadia de crer
Tema 2
(2º Período)
Valores para uma vida com projecto
Em relação com a pessoa de Jesus
Viver ou não viver segundo o Evangelho
Esta é a fé da Igreja
Tema 3
(3º Período)
A religiosidade do Adolescente
A Igreja, lugar de relação vital
Escolher a esperança
A fé que celebramos
 
Esta proposta temática tem como suporte os objectivos e competências assinaladas em cada bloco do guia do Catequista. Na preparação do que dizer, seria conveniente analisar com cuidado o que se aponta em cada bloco e adoptar ou reformular os objectivos aí propostos.
 
ESTRATÉGIA A DESENVOLVER
(Aspectos sobre “Como orientar as reuniões de pais”).
 
Uma Reunião de Pais, em catequese, nada tem a ver com uma Assembleia de Pais escolar. São encontros para sensibilizar, formar e evangelizar. Não podem ser uma instância de juízo ou censura de comportamentos, nem para “sermões ou discursos” mais ou menos moralizantes.
Assim, o orientador duma reunião de pais (padre ou catequista) deve ser um facilitador do processo comunicativo. O objectivo é transformar “pais clientes” em “pais colaboradores” e parceiros educativos. A reunião de pais “precisa de ser participada por todos os presentes sem deixar de ser orientada”. Há que interpelar, incentivar a participação, motivar, “manter o rumo da reunião e ajudar a alcançar uma conclusão clara”. “Importa preocupar-se também do como vai dizer e de quem e como vai ouvir”.
Há que cuidar com atenção e esmero das questões relativas ao encontro propriamente dito. Neste contexto, há que ter em atenção (que é preciso):
1) A convocatória / convite e a agenda — Esta convocatória / convite deve ser enviada atempadamente (nem muito antecipadamente nem em cima da hora); deve ser graficamente bem apresentada e agradável (não necessariamente de ser sempre em papel — podemos socorrer-nos de outros materiais baratos e acessíveis — apenas mais trabalhosos); deve ser mais criativa que formal; deve utilizar uma linguagem (não simplesmente verbal) simples e acessível; deve suscitar curiosidade e interesse pelo tema a apresentar; deve indicar de modo claro e inequívoco o tema, o local onde se realiza e a hora a que se começa;
2) O acolhimento — Como na catequese também o acolhimento aos pais é relevante. O acolhimento ambiencial deve ser cuidado: em sala limpa, bem iluminada, com cadeiras para todos, aquecido ou arrefecido, disposta convenientemente de acordo com os meios ou estratégias que se vão desenvolver; com arranjos florais convenientes, música de fundo, etc; O acolhimento humano deve ser significativo, acolhendo cada um dos casais que vão chegando e à medida que vão chegando, identificando-os como pais de, cumprimentando-os, suscitando à vontade; já em grande grupo, saudar cordialmente todos e dar as boas vindas.
3) A apresentação do tema — Na apresentação do tema sugerimos que se utilize o itinerário catequético, isto é, que se parta sempre d(e algum)a experiência humana significativa e comum a todos, se faça a leitura desta situação à luz da Palavra (escrita ou transmitida) e se possibilite a conversão em ordem a um agir novo e diverso; Seia também utilizarmos, tanto quanto possível, métodos activos: dinâmicas de grupo e audiovisuais. Para alguns dos temas propostas poder-se-á convidar pessoas mais habilitadas e de reconhecida qualidade intelectual (e se possível também espiritual). O convite a estas pessoas terá de ser devidamente enquadrado dentro dos objectivos a atingir e competências a desenvolver. Nesta situação também se pode fazer uma parceria entre o convidado, o orientador e os pais.
4) Trabalhos de Grupo e/ou reuniões de grupo — Se a reunião for para um grupo muito grande de pais (o que de todo se desaconselha) podem reunir-se, em algum dos momentos por grupos, seja para qualquer trabalho relativo ao tema, seja para diálogo concreto e orientado com o catequista respectivo. Os trabalhos de grupo podem funcionar como uma estratégia para “fazer falar”, sobretudo na abordagem de temas difíceis.
5) Oração e cântico finais. Se se seguiu o itinerário catequético, este momento será obviamente dispensável. Noutra situação será recomendável terminar com uma breve oração e cântico (ensaiado durante o acolhimento, do conhecimento de todos ou de fácil aprendizagem).
6) Breve convívio. Às vezes, entre dois dedos de conversa, entre dois goles de chá ou café, descobrem-se e dizem-se coisas profundamente sérias e significativas sobre os filhos, o modo de ser pais, etc. Seria oportuno, no final ou num intervalo, convidar e proporcionar um chã ou café.
 
CONCLUSÃO
 
O trabalho com pais tem de ser um trabalho confiado na acção do Espírito Santo. Ele é o principal dinamizador da fecundidade deste trabalho. Não nos deixemos desanimar pela reduzida da participação, pela aparente indiferença ou desinteresse, pela suposta inoperância deste trabalho. Trabalhemos convictamente, com perseverança e confiança, cuidando do tesouro que queremos comunicar e transmitir. Trabalhemos competentemente, com qualidade metodológica, velando pela beleza da comunicação, respeitando os interlocutores (sejam muitos ou poucos, ricos ou pobres, formados ou não) e sendo fiéis à mensagem que desejamos ardentemente anunciar e testemunhar.

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