21 agosto 2012

Catequese voltada para pessoas com deficiência mental


(...) A educação é um complexo processo humano que não se realiza somente na escola. No entanto, quando falamos em educação somos compelidos a imaginar a instituição escolar como único local válido para a escolarização das pessoas.
Segundo Brandão (1984, p.01) a educação acontece: "em casa, na rua, na igreja, na escola, de um modo ou de muitos modos nós envolvemos pedaços da vida com ela"; sendo que a "a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática e o professor não é o seu único praticante".
Educar não se resume simplesmente em instrumentalizar as pessoas ensinando-as ler, escrever e contar. Podemos até afirmar que educar e escolarizar são situações distintas. Educar seria um processo muito mais amplo de assimilação e inserção cultural dos indivíduos para viver em sociedade e a escola seria um momento dessa dinâmica. Em cada sociedade a educação se processa de um modo diferente, dependendo da região e da época.
Em nossa sociedade é o Estado, através das instituições escolares e seus diplomas que reconhece, se uma pessoa está apta a participar da vida pública, seu "nível" educacional pode instrumentalizá-lo positivamente à vida moderna e indicar sua possível "posição" na sociedade, entretanto outras instituições, além da Escola, se colocam à tarefa de educar as pessoas, no sentido da transmissão de valores, comportamentos e habilidades, no Brasil destaca-se a Igreja Católica, mas não nos referimos à sua atuação clássica e tradicional em nossa educação secundária e superior, mas àquela que se realiza no interior das comunidades e se preocupa em inserir as pessoas nos Sacramentos e numa ética religiosa cotidianamente atuante.
Este trabalho pretende apresentar a minha experiência de cunho pedagógico vivenciada num grupo de colaboradores no interior da Catedral de Londrina inspirado na minha formação de professora de educação especial e catequista; esse trabalho educacional chamamos inicialmente de Catequese Especial; que através de pedagogia adequada, inspirada no Catecismo da Igreja Católica e, tendo como direção as palavras de Jesus: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda Criatura" (Mc 16,15), difunde práticas pedagógicas e educacionais exclusivamente aos portadores de deficiência mental com a meta de educá-los na fé católica e contribuir para sua inclusão social para além dos limites da vida religiosa. Acreditamos que a realização dessa inclusão é uma possibilidade viável desde que inserida numa agenda governamental realizada prioritariamente pelos poderes públicos e os movimentos sociais.
(...) A Catequese Especial começou em 1992 com 14 catequizandos especiais (com apoio amplo e apoio limitado) adolescentes entre 12 e 18 anos em encontros dominicais que se estendiam entre 08h00min e 08h50min e em seguida pais e catequizados se dirigiam até a Catedral onde participavam da missa; nossa motivação inicial era a formação espiritual e simultaneamente integrá-los às crianças e jovens da catequese convencional nas "tarefas" das celebrações litúrgicas (ofertórios, preces, cantos etc.) proporcionando sua visibilidade e inserção na vida comunitária.
Um trabalho prévio de conhecimento do grupo inspirou uma pedagogia que procurava ter em vista atender as dificuldades desses adolescentes, saídos de diferentes experiências de contato social, além de estabelecer as atividades e ritmos da catequese segundo o calendário litúrgico (Quaresma, Campanha da Fraternidade, etc.).
Adotamos uma metodologia na qual os encontros tinham linguagem coloquial e correta, gestos e posturas de orações repetidos e ensaiados e a doutrina cristã transmitida através de exemplos práticos, cujos conteúdos discutiam o catolicismo, a fé, as orações, os sacramentos e mandamentos da Igreja etc.). Nosso trabalho pedagógico se iniciava com o sinal da Cruz, através de gestos repetidos; em seguida, eram realizadas preces e orações e depois discutíamos o tema do dia com uma atividade de dramatização e cantos religiosos, que pareciam propiciar um ambiente bastante positivo para a compreensão dos temas; fazia-se a leitura da Bíblia e depois trabalhávamos atividades de memorização, finalmente passava-se a "lição de casa" geralmente uma leitura bíblica com a família. Cada catequizando possuía seu caderno para atividades, anotações e tarefas de casa que funcionavam como reforço para assimilação e fixação dos conteúdos estudados.
Procurando adequar estratégias de motivação e trabalho pedagógico em consonância às potencialidades do grupo, as atividades procuravam estimular as crianças através exposição oral, diálogos, cartazes coloridos, vídeos de temas religiosos, revistas, dramatização de situações cotidianas. Os critérios adotados e que consideramos indicadores positivos para o catequizando especial receber a Primeira Eucaristia, resumiam - se na observação de alguns elementos tais como a freqüência, a postura de oração, a conduta na missa e o relacionamento interpessoal. Esse processo se manteve com variações no número de catequizandos especiais mas todos os anos acontecem as cerimônias da Primeira Eucaristia e a Confirmação da Crisma aos portadores de deficiências.
Nesse trabalho nossa preocupação se pautou em inserir o projeto da Catequese Especial da Arquidiocese de Londrina na história e no movimento dos grupos sociais que lutam em prol de uma política inclusiva. O propósito inicial era a evangelização dos portadores de deficiências mentais, objetivo plenamente realizado nesses dez anos de existência, ao mesmo tempo, que estimulou o debate sobre a inclusão junto à comunidade católica londrinense.
Observamos que embora dever constitucional do Estado, a experiência da Catequese Especial, demonstrou ser possível a participação e construção de projetos inclusivos viáveis, por parte das instituições da sociedade civil; respeitando os limites e alcances do projeto, foi possível constatar que nossos catequizandos especiais e suas famílias vivenciaram um processo de inclusão junto à comunidade, essa "inclusão" avaliamos ser bastante relativa, ainda distante daquela inclusão "ideal", porém, parece ter proporcionado oportunidades de vivência social consistente a grande maioria dos participantes; é bastante provável que essas atividades sociais religiosas estimulam atitudes comportamentais positivas que reforçam o fortalecimento de laços afetivos e intelectuais entre os catequizandos especiais e a comunidade.

Nessa pesquisa uma questão dificultosa é o conceito de deficiente abrangido pela nossa clientela, majoritariamente portadores de deficiências mentais, alguns apresentando dupla deficiência, assim trabalhamos com pessoas que possuem comprometimento em suas capacidades intelectivas, embora no contexto da catequização, esse fator não os impediu de assimilar conteúdos e as práticas propostas pelo projeto.
Mesmo limitados pelas deficiências, os encontros são dinâmicos e em geral os participantes se sentem estimulados e participativos, são trabalhados os valores religiosos, morais e éticos para o resgate e a construção da cidadania e sua assimilação se expressa na convivência e respeito às pessoas da comunidade.
Os pais acreditam que a Catequese Especial é importante para seus filhos pois podem receber os sacramentos dos católicos (penitência, eucaristia, crisma etc.) possibilita uma vivência espiritual que aprofunda a fé além da inclusão na comunidade; os professores colocam que os alunos participantes da Catequese Especial apresentam relativo progresso escolar e se esforçam em manter o relacionamento com os professores e colegas de turma. No decorrer do ano litúrgico, os catequistas observam mudanças de postura nos encontros, nas missas e outras atividades religiosas, percebe se assimilação e interiorização dos valores e comportamentos transmitidos, finalmente, os próprios catequizandos especiais relatam positivamente a experiência de participar da Catequese Especial, pois aprenderam coisas novas a respeito da religião católica, além de poderem receber Jesus em seus corações, pois isso é "maravilhoso", na medida em que lhes proporciona coragem para viver.
O projeto da Catequese Especial reflete o envolvimento maior da Igreja Católica junto à demandas dos grupos socialmente desfavorecidos bem como no comprometimento e apoio aos movimentos sociais empenhados com o exercício dos valores éticos, morais e religiosos na formulação de propostas inclusivas, no sentido de praticar a inclusão real, foi construída uma rampa de acesso na Catedral, local onde é realizada a Catequese Especial para favorecer a locomoção dos deficientes.
Assim acreditamos que a Catequese Especial favorece a inclusão pois oferece condições de interação no espaço formal da Igreja proporcionando incentivos para os processos inclusivos, oferecendo aos portadores de deficiências oportunidades de vivenciarem diferentes papéis sociais.Disponível em : http://saci.org.br

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